4.5.12

Ártemis- A deusa do Parto


Acredita-se que Ártemis seja a expressão da divindade feminina mais antiga da Grécia. Anterior a Deméter, Deusa dos campos cultivados, da agricultura e das organizações comunitárias sedentárias, Ártemis, de arco e flecha, livre e indômita, pertence à cultura dos povos caçadores e nômades. Ela personifica a Natureza que acolhe, mas exige respeito. Ela dá o nutrimento e permite a vida, mas não tolera o abuso. Nesse caso, tira a vida, sem pensar duas vezes. Sua justiça é precisa e imediata, funcional para que a alegria e a graça de sua dança pelos bosques não seja perturbada.

Ártemis é uma moça que aprecia a corrida solta e o jogo com os animais da floresta, sendo a corça dos cascos de ouro seu animal-símbolo. O profundo olhar escuro deste tipo de cervo contém a meiguice e doçura que a Deusa garante aos que a respeitam. Delicada e sensível, a corça complementa a bravura e coragem da Deusa.

Ártemis exemplifica o feminino em seu aspecto selvagem, não acaso ela foi a Deusa que mais sobriveveu ao longo da Idade Média. Em volta de suas árvores, as nogueiras e os carvalhos, reunia mulheres para danças, cantos e festas. Ainda no século XIV podia-se observar esses encontros noturnos que só terminaram com a longa cruel caça às bruxas. Ártemis é a Deusa das Mulheres por excelência. Estupros não são tolerados e a flecha infalível da Deusa mata o estuprador em uma fração de segundos.

Ártemis é aquela que dá coragem para abrir caminhos, enfrentar novas e desafiadoras tarefas. Ela é a feminista de alma, a ecologista, a transgressora. Foi a Filha das Flores na década dos anos Sessenta e a promotora do parto ativo na década de Oitenta. Pois, Ártemis é ativa. Não espera por nada nem ninguém, não conhece a camisa de força que faz as mulheres se sentirem pequenas, incapazes e inseguras. Eternamente carentes. Desconhece ela ela preconceitos mutiladores, os quais ricochetean em seu peito, como se estivesse protegida por um colete a prova de bala.

Ártemis não argumenta contra as injustiças cometidas contra as mulheres, não escreve dissertações de Mestrado e teses de Doutorado, como faz sua irmã Atena. Não cria projetos de lei. Ela simplesmente não faz, não se deixa amarrar e vai pelo seu caminho. Foge de qualquer situação que vá reprimir sua natureza. É somente com a colaboração de Atena que o movimento de mulheres ganha vulto social e teórico. Ártemis não perde tempo em explicar e muito menos em agradar. Ela segue seus instintos que são infalíveis, como os de todos seus amigos animais. Se algo está querendo aprisionar, é ruim. Ponto. Se a relação é de violação, é ruim. Ponto. Não há “mas” e “se”, como os que proliferam em conversas que dão voltas e voltas tentando salvar o insalvável, justificar o injustificável.

É inevitável que uma Deusa dessas só podia ser a protetora dos partos. Porque é neles que a liberdade instintiva e selvagem da mulher pode e deveria brilhar como uma lua cheia em céu noturno. Não é hora de discutir com o médico ou de ser informada sobre todos os procedimentos. É hora de soltar todas as amarras e dançar ao rítmo dos instintos. É a hora do corpo no comando. Atena, Deméter e Perséfone contam com a sabedoria de Ártemis nesse momento. O tempo de informar-se e pensar, já passou. Aquele de curtir a gestação e elaborar os conflitos, chorar ou preocupar-se, também. Agora é o tempo de Ártemis. É a hora do corpo fluir em movimentos instintivos e sabido, como um rio que chega ao mar por intrinseco destino. É para Ártemis brilhar. Deixar a luz suave e macia de sua lua cheia acariciar a barriga, o útero, a vulva, a vagina, a alma, seguir o uivado das lobas, o guia das estrelas e os chamado dos instintos. Deixar a vida acontecer
naturalmente é seguir Ártemis. Nela estar, nela mergulhar. O manto azulado e leve de Perséfone estará de vigília, ao lado da rítmico tamburejar de Ártemis. Uma prometendo o gozo da vitória do corpo poderoso, a outra a gloria da trasmutação interior. Cruzado o tempo/espaço místico do parto, na soleira do outro lado, Perséfone e Ártemis acolherão a nova mãe que é também uma nova mulher, resplandecendo de luz nova e senhora de si. Muitos anos vão ser necessários para absorver em termos de Atena a experiência do parto. A transformação promovida está só no começo e Perséfone terá uma longa estrada ao lado da mãe, que agora vive sua aprendizagem demetriana, dia e noite.

Ártemis tras uma lição importante para o movimento feminino da humanização do parto: não na cabeça se faz o parto, conhecimentos são necessários mas o indispensável é soltar as rédeas do controle racional e saber seguir os instintos. Ouvir as intuições e sentimentos que guiam quando estes estão centradas em Ártemis e são autênticos. Se trata de uma entrega, de um confiar. No parto a mulher é una com a Natureza. Despindo-se do ego e das armaduras sociais e intelectuais de Atena, a mulher mergulha seu ser na matriz feminina à qual pertence e dela nascem a mãe e o/a bebê.

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